Opinião | Te encontro no Círio em Belém do Pará
Por Benigna Soares
Quem conhece a história do Pará sabe que em Belém o Natal, mundialmente celebrado em dezembro, se repete no mês de outubro. Os preparativos são muitos e acontecem o ano todo. Estive em Abaetetuba há cerca de dois meses e lá os artesãos trabalham sem parar, preparando o tradicional “brinquedo de miriti”, artesanato que resgata as manifestações culturais e a rotina do ribeirinho da Amazônia.
Por aqui já chegou a Corda do Círio, precioso símbolo que nos envolve em uma só devoção. Tem maniva sendo colhida e pré-cozida para a maniçoba, o pato está na engorda para se juntar ao tucupi que está sendo coado e fervido também para o tacacá.
Os parentes e amigos começam a confirmar presença em nossos lares e já estamos reforçando os armadores de rede, adquirindo um colchonete novo e armazenando a farinha de Bragança na dispensa.
Eu, da minha parte, divulgo há cerca de 20 anos o Círio. Me alegro de já ter feito isso em vários estados brasileiros e até em Portugal, de fazer parte de um seleto grupo que criou o Prêmio de Jornalismo em Turismo Comendador Marques dos Reis só para reforçar a divulgação do Círio e de outros eventos turísticos religiosos do Pará (conheça e participe em www.abrajetpara.com.br)
Nesse processo todo de preparação ainda há muito o que fazer. Mas, os organizadores não param. É arquibancada sendo montada, voluntários sendo chamados, credenciais sendo emitidas, esquema de trânsito e de segurança preparados, embarcações sendo contratadas, pintadas e decoradas para a Romaria Fluvial. Novenas e peregrinações acontecem todos os dias sem esquecer do arsenal de fogos e das velas para iluminar a noite da Trasladação.
Neste sábado, 21, por exemplo, a Diretoria da Festa de Nazaré realiza a preparação dos alunos de diferentes escolas que vão conduzir os Carros de Promessa, na grande procissão do Círio. Durante o evento haverá momentos de oração, preparação espiritual e orientações sobre como ocorre a romaria de domingo e das funções destes estudantes.
A ordem de condução dos carros ficou assim:
♡ CARRO DE PLÁCIDO: Colégio do Carmo/ Carmo Ananindeua;
♡ BARCO DA GUARDA: Guarda Mirim;
♡ BARCA NOVA: Colégio Benjamin Constant/ Colégio São Paulo;
♡ CARRO DOS ANJOS 1: Anjos – Basílica;
♡ CESTO DE PROMESSAS: Colégio Pequeno Príncipe – Avante/ Dr. Freitas;
♡ CARRO DOS ANJOS 2: Anjos – Basílica;
♡ BARCA COM VELAS: Colégio Aslan/ Escola Tenente Rêgo Barros;
♡ CARRO DOS ANJOS 3: Anjos – Basílica;
♡ BARCA PORTUGUESA: Colégio Impacto/ Colégio Sucesso;
♡ CARRO DOS ANJOS 4: Anjos – Basílica;
BARCA COM REMOS: NPI/ Colégio Santo Antônio;
♡ CARRO DOM FÚAS: Colégio Santa Rosa/ Colégio Gentil Bittencourt/ Colégio Olimpus;
♡ CARRO DA SAGRADA FAMÍLIA: Souza Franco/ Colégio Santa Catarina.
♡ PROMESSA E MILAGRE ♡
Acho lindo esse envolvimento dos estudantes pois assegura a continuidade da tradição, novos capítulos a serem escritos. Eu, particularmente, gosto de divulgar os Carros dos Promesseiros porque em 2002 fiz um pedido à Nossa Senhora de Nazaré que acordasse minha filha de um coma, resultante de traumatismo craniano depois de um acidente doméstico.
No Hospital Ofir Loyola tinha uma Berlinda com a Imagem de Nazaré. Foi lá que me ajoelhei e implorei a ela pela vida da minha borboletinha, que acordou em dois dias, depois de cerca de 40 dias desacordada. Os médicos tinham desenganado a vida dela e queriam desligar os aparelhos visando a doação de órgãos.
Mas, eu sempre tive muita fé. Pedi ajuda a tantos amigos, pessoas desconhecidas, inclusive para que isso não ocorresse. Foram dias de escuridão profunda. Mas, Nazica sempre foi e sempre sera luz em nossas vidas. Minha promessa se cumpriu em 13 anos, pois prometi cortar os cabelos da minha filha até ela completar 15 anos e colocar no Carro dos Milagres. E assim fiz. Algumas pessoas confundem um pouco as coisas e interpretam de forma equivocada certos fatos. Acreditam que algumas pessoas sofrem mais, enfrentam mais problemas, correm mais risco como paga por serem como são.
Eu acredito que quanto maior é nossa fé, mais provações nos chegam. Ser testado nessa fé nem sempre é algo ruim. É só uma oportunidade para reafirmarmos sem medo, sem vergonha, sem preconceito quem de fato nós somos. Eu tenho medo da capacidade humana de fazer o mal, da falta de solidariedade, da inveja, da ambição descontrolada que sai destruindo tudo. Tenho medo da mentira, das armadilhas da vida.
Mas, tenho muitos motivos para acreditar em Deus, nos milagres de Nossa Senhora de Nazaré, na bondade das pessoas e acima de tudo na nossa transformação como pessoas humanas, capazes de amar verdadeiramente, de proteger uns aos outros, de perdoar e recomeçar. E acho que o Círio é um espaço único que temos para esse recomeço. É um lugar no tempo de Deus para reencontros.
Então, vamos nos reencontrar em Belém, no Pará, na Amazônia, durante o Círio de Nazaré?
* Benigna Soares é diretora da Abrajet-Pará e autora do blog: benignasoares.blogspot.com